A cinco anos Steven Johnson vem investigando de onde vem as boas ideias.
Sem dúvida, como ser criativo é uma resposta que todos nós estamos interessados em descobrir.
O atual contexto mercadológico em que vivemos nos força a querermos gerar mais ideias criativas, afinal, nossas carreiras e nossos negócios dependem disso.
Segundo Johnson, não é por acaso que criatividade e inovação caminham lado a lado.
Mas, como ser mais criativo e mais inovador?
Existem maneiras ou elementos que possam contribuir para a geração de boas ideias e o aumento da criatividade?
Em seu estudo, Johnson afirma que sim, e ao contrário do que gostamos de acreditar, criatividade e inovação não surgem de um súbito lampejo de genialidade.
“É muito, muito raro encontrar casos em que alguém por conta própria, trabalhando sozinho, em um momento de súbita clareza tem uma grande inspiração que muda o mundo.”
Para chegar a esta conclusão, ele observou o problema da criatividade através da perspectiva do meio em que vivemos.
Para isso analisou diversas situações históricas que ficaram famosas ao gerar níveis extraordinários de criatividade e inovação.
Ele descobriu que em todas as situações existem padrões recorrentes, com os quais nos deparamos repetidas vezes e que são cruciais para que seja possível criarmos ecossistemas inovadores.
Segundo o estudo, as ideias revolucionárias quase nunca surgem em um momento de grande perspicácia ou em um surto repentino de inspiração.
As ideias mais importantes levam tempo para evoluir e passam um período adormecidas antes de se concretizarem.
Apenas quando as ideias completam em média 2, 3 ou até mesmo 10 anos amadurecendo, elas se tornam exitosas e úteis de alguma maneira.
Isso ocorre em parte porque as boas ideias surgem normalmente da colisão entre palpites menores, que formam quando somados, algo maior que eles próprios.
É como observar na história da inovação casos de alguém que tem inicialmente metade de uma ideia. A invenção da internet é um exemplo.
Tim Berners Lee trabalhou no projeto do que seria atualmente a internet por 10 anos, considerando-o como um trabalho secundário e sem muita importância.
Somente após este período, impactado por inúmeras outras ideias e inovações, Lee conseguiu vislumbrar todo o potencial do invento e popularizá-lo pelo mundo.
Charles Darwin sempre disse que a Teoria da Seleção Natural lhe ocorreu em 28 de setembro de 1838, enquanto lia o ensaio de Thomas Malthus sobre população, quando de repente, o mecanismo da evolução parecia incrivelmente simples.
Porém, seus cadernos e anotações revelam que a teoria estava se formando claramente em sua mente há mais de um ano.
Como diz Johnson:
“Ideias criativas são construídas a partir de uma coleção de ideias menores já existentes, literal e metaforicamente falando.”
Isso ocorre com muito mais frequência do que imaginamos.
As ideias precisam de um período de encubação e de permanecerem um tempo no estágio de palpite parcial antes de se transformarem em inovação.
Outro ponto importante ao considerarmos as ideias dessa maneira é que quando elas ganham forma nesse estágio de palpite é necessário que colidam com outras ideias.
Geralmente, o que transforma um palpite em uma ideia criativa e extraordinária é outro palpite que andou povoando a mente de outra pessoa.
Isso significa, em termos práticos, que a melhor maneira de ter novas idéias e criar processos criativos não é apenas esperar uma “centelha de genialidade”, buscar uma cabana nas montanhas para “ser criativo”, ou falar a todo momento em “pensar fora da caixa”.
Ao invés disso, o melhor a fazer é expandir sua rede de relacionamentos, expondo-se a quantas descobertas, argumentos e conversas forem possíveis.
Assim, temos que pensar em formas de criar sistemas que permitam que esses palpites se unam e se transformem em algo maior do que quando eram partes independentes.
“Por exemplo, é por isso que os cafés durante o iluminismo e os salões parisienses no modernismo eram motores de criatividade. Esses locais criaram espaços onde as ideias puderam se misturar, se combinar e tomar novas formas.”
Ao observar a problemática da inovação sob essa perspectiva é possível estimular o importante debate sobre o que a internet tem causado ao nosso cérebro.
A internet, assim como os cafés no iluminismo e os salões no modernismo, pode criar espaços propícios para a colisão de palpites e contribuir para a junção de pequenas ideias que se complementam, e que após somadas, tem potencial de gerar grandes inovações.
Por outro lado, também há quem defenda que estamos ficando desgastados com o estilo de vida multifuncional e conectado 24h, que pode levar a ideias menos sofisticadas e até mesmo mais superficiais.
É importante lembrar que o grande propulsor da inovação cientifica e tecnológica sempre foi o aumento histórico da conectividade e da nossa capacidade de buscar outras pessoas com quem possamos trocar ideias e pegar emprestado palpites, e assim, combiná-los com os nossos próprios e transformá-los em algo novo.
Segundo Johnson, esse tem sido o principal motor da criatividade nos últimos 600 anos.
Nunca na história tivemos tantas novas formas de nos conectar, de buscar e encontrar pessoas que possuem aquela peça que faltava para completar a ideia que estamos trabalhando, ou de nos depararmos, por acaso, com alguma informação nova e incrível que podemos usar para desenvolver ou melhorar nossas próprias ideias.
Segundo Johnson essa é a verdadeira lição sobre de onde vem as boas ideias e a criatividade que gera inovação.
“…o acaso favorece a mente conectada!”
Quem é Steven Johnson?
Steven Johnson é autor do livro Where good ideas come from – The natural history of innovation (De onde vêm as boas ideias – A história natural da inovação).
No livro ele busca as condições que possibilitaram ideias transformadoras.
Sua intenção é derrubar as expectativas em relação aos momentos de iluminação, em que um indivíduo genial cria sozinho uma grande inovação.
Johnson considera esse “momento eureca” um mito e tenta mostrar que por trás de ideias criativas há sempre a reciclagem de outras, as próprias e as alheias.