Assisti recentemente ao filme O Círculo (lançado no Brasil em julho de 2017) e por tratar de temas tão atuais fiquei entusiasmado para falar sobre ele aqui no blog.
A estória baseada no livro homônimo de Dave Eggers, traz à discussão paradoxos da vida hiperconectada e questões sobre onde novas tecnologias como Big Data, Data Driven Marketing, Internet of Things (IoT) e outras inovações podem nos levar.
Estrelado por Ema Watson e Tom Hanks, o filme conta a trajetória da jovem Mae (Ema), que passa por dificuldades financeiras e está insatisfeita com seu atual trabalho.
Em busca por recolocação profissional, Mae consegue por indicação de sua amiga Annie (Karen Gillan), emprego na maior companhia de tecnologia do mundo, chamada O Círculo, que mais parece uma mistura de Google, Facebook e Apple.
Afirmando querer tornar o mundo melhor e mais simples, a empresa possui diversos produtos e serviços que estimulam com que as pessoas permaneçam sempre conectadas, como computadores, smartphones, mini câmeras de alta definição, sistemas de busca, armazenamento de arquivos na nuvem, ferramenta de email e uma rede social, a True You, peça central do filme.
A True You, como o próprio nome sugere é uma rede social que tem como premissa fazer com que seus usuários se mostrem como realmente são compartilhando suas vidas sem restrições.
Pela plataforma, todos devem divulgar na íntegra transmissões ao vivo por vídeo do seu dia a dia, publicar ligações telefônicas, e-mails, arquivos, etc., construindo um ambiente onde tudo é público.
A principal justificativa da empresa para essa iniciativa é que “segredos são mentiras” e que “a privacidade rouba a possibilidade dos indivíduos vivenciarem e aprenderem com as experiências de outras pessoas”.
Gradativamente, ao longo do filme, as ambições do Círculo vão se mostrando maiores à medida que seus reais objetivos ficam evidentes: Construir uma base de dados integrada de todas as informações de todos os habitantes do planeta com fins comerciais.
Qualquer semelhança do filme O Círculo com a vida real não é mera coincidência
Embora o filme exagere em algumas situações, muitas delas em menor escala já fazem parte da vida da maioria das pessoas inseridas no universo digital, outras, estão dando seus primeiros passos para ganhar escala.
Parece muito fora da realidade para você? Então, vamos dar uma olhada…
Big Data
A quantidade de dados no mundo está dobrando a cada dois anos e atingirá 40 trilhões de gigabytes em 2020, de acordo com estatísticas do Gartner e IDC.
Transações bancárias, compras por cartões de crédito e débito, interações na internet, geolocalização através de dispositivos móveis, conversas de e-mail, arquivos armazenados na nuvem e uma infinidade de novas tecnologias inseridas em nosso dia a dia constituem uma gigante base de dados sobre cada um de nós.
Isso sem contar que tudo que fazemos offline também deixa rastros digitais.
A diferença do contexto em que vivemos para a realidade retratada em O Círculo é que atualmente todas as informações sobre cada indivíduo encontram-se descentralizadas, em alguns casos desestruturadas e sendo de propriedade de diferentes empresas.
Mas, este cenário já está mudando. Atualmente é possível – e já fazemos com frequência aqui na agência – a criação de anúncios no Facebook segmentados pela renda mensal de seus usuários.
Mas, você deve estar se perguntando: Como isso é possível, uma vez que a rede social não solicita nem tem acesso a essa informação?
A resposta é: Por meio do cruzamento de dados gerados por outras empresas, como instituições bancárias e órgãos que negociam informações entre si.
Falta pouco para que todos esses dados sejam centralizados e atribuam um enorme poder à empresa que os detiver.
Web Analytics e Data Driven Marketing
Com tanta informação disponível para análise e a facilidade de gerar dados digitalmente sobre um público alvo, cada vez menos empresas têm tomado decisões estratégicas baseadas em achismos e suposições.
Do desenvolvimento de novos produtos e serviços à aquisição de clientes, ações baseadas em informações concretas estão fazendo parte da rotina de empresas de todos os portes e segmentos.
Metodologias como o Growth Driven Design, onde websites são constantemente monitorados e melhorados por meio de dados obtidos com análises das interações realizadas por usuários, vem ganhando mercado e se popularizando.
Ferramentas de Automação de Marketing já se tornaram acessíveis a pequenos negócios, permitindo colocar o valor gerado para cada cliente como peça central de uma estratégia empresarial, possibilitando comunicações individualizadas e totalmente personalizadas.
Outro exemplo bastante famoso sobre o assunto é a eleição americana onde Donald Trump se tornou presidente.
Muitos depositam o resultado dessa eleição à participação da Cambridge Analytica, empresa especializada em análise de dados que norteou todas as ações estratégicas da campanha com base no estudo das interações dos eleitores americanos no Facebook.
A empresa é detentora de um algoritmo, que segundo ela é capaz de identificar por meio de psicometria, traços precisos de personalidade de indivíduos pelas suas interações na rede social (saiba mais neste artigo).
Câmeras Online com acesso por aplicativos de IPTV
Existem instaladas ao redor do mundo inúmeras câmeras de monitoramento transmitindo ao vivo as imagens captadas via internet. Elas podem ser acessadas por qualquer pessoa que possua um aplicativo de IPTV.
Aplicativos do gênero são simples de instalar, usar e não requerem conexão de banda larga robusta, sendo possível visualizar as imagens inclusive de conexões 3G.
Lives por Redes Sociais
Redes sociais como Facebook, Instagram, Snapchat, Periscope e Youtube já há algum tempo vem estimulando transmissões ao vivo de seus usuários. São as famosas “Lives”.
Como benefício, quem as realiza, ganha mais visibilidade para suas transmissões em comparação às publicações tradicionais.
Como estar em evidência atualmente em tais mídias tem se tornado algo disputado, as Lives só tendem a crescer.
Você provavelmente já deve ter se deparado inúmeras vezes em sua linha do tempo com transmissões ao vivo de eventos, bate papos, lugares inusitados e refeições. Eu inclusive já me deparei com uma transmissão de um velório! Bizarro…
Internet das coisas (IoT – Internet of Thinks)
Em uma revolução silenciosa, a anos inúmeras empresas têm investido em iniciativas no sentido de desenvolver tecnologias que permitam conectar à internet objetos do nosso dia a dia, como geladeiras, cafeteiras, sistemas elétricos residenciais, carros e máquinas industriais.
As aplicações são diversas e podem estar presentes em toda a parte. Mas, o mais fantástico de tudo é a possibilidade de tais objetos se comunicarem e trocarem informações entre si, sem a intervenção humana.
Veja alguns exemplos de aplicações já em uso da Internet das Coisas:
- Informações sobre desgastes de componentes podem ajudar a cortar custos de manutenção e operação de máquinas industriais, além de identificar potenciais falhas de equipamento antes que de fato ocorram.
- Sensores podem reportar exatamente onde, quando e como um produto é usado para ajudar em processos de design e marketing.
- Monitorando a condição e o uso de componentes conectados é possível prever quando consumidores precisarão de peças de substituição e garantir que eles as tenham quando necessário.
- Sensores em grandes contêineres de entrega podem receber dados em tempo real sobre onde está um pacote, qual a frequência de manuseio e qual sua condição.
- Produtos com chips incorporados em sua embalagem dispensam a necessidade de caixas humanos em lojas. Basta pegar o produto da prateleira e ao sair do estabelecimento, ao passar por sensores, o valor referente a ele é automaticamente debitado de seu saldo bancário.
Parece cena de filme de ficção científica mas já é realidade!
Reflexões sobre o filme
Talvez, por estarmos tão inseridos nesse contexto de evolução tecnológica e participando ativamente de cada mudança, não notamos o quanto nosso comportamento – e da sociedade como um todo – vem se transformando.
Hoje, impulsionados pela tecnologia percebemos novos padrões de conduta e novas necessidades surgindo de modo acentuado.
Características as quais vem se materializando nas pessoas através de hábitos e atitudes (algumas vezes) controversas.
É fácil percebermos ao nosso redor comportamentos, que de tão frequentes se tornaram comuns. Mas, nos levam (ou deveriam levar) a reflexões mais profundas a respeito, como:
- A presença consistente em mídias sociais se tornou algo indissociável de qualquer profissão ou cultura organizacional?
- Até que ponto devemos renunciar à vida privada e às liberdades individuais?
- Existe um limite ético e moral que estabeleça até onde a tecnologia pode e deve interferir na vida das pessoas?
- A internet está criando uma necessidade excessiva de exposição e autoafirmação, seja do aspecto profissional ou pessoal?
- Onde começa e acaba a liberdade e individualidade de cada pessoa?
- As redes sociais estão construindo pessoas menos sociais no mundo offline?
- Quais serão os efeitos a longo prazo causados pela onipresença digital?
- Estamos cada vez mais hiperconectados digitalmente e cada vez menos envolvidos com as experiências da vida real?
Mesmo diante de tantos paradoxos, do ponto de vista empresarial, é indiscutível todos os benefícios e possibilidades que a tecnologia nos trouxe.
Nunca na história foi possível entender tão bem as necessidades de potenciais consumidores e tão barato se comunicar com eles.
Quero terminar esse texto deixando essas reflexões a você…
Até o próximo artigo!
PS: Não deixe de nos contar as suas impressões sobre o filme e o post aqui nos comentários!
PS2: O roteiro do filme O Círculo aborda muitos assuntos superficialmente, mas mesmo assim, na minha opinião vale a pena assistir.